Pecuária de leite

Desaceleração da oferta interna de leite

O ano de 2006 não foi dos melhores para a pecuária de leite. O preço real médio pago aos produtores, de janeiro a outubro, foi 18% menor que no mesmo período de 2005. O custo de produção teve incremento superior a 15%, em função do aumento dos preços dos ingredientes usados nas rações, como milho e farelo de soja, entre outros. O valor bruto da pecuária de leite terá queda de 8%, fechando o ano em R$ 11,8 bilhões.

A oferta interna de leite sob inspeção vem desacelerando em relação ao ano anterior, sendo apenas 0,9% superior à produção de janeiro a 

setembro de 2005. A expectativa é que produção formal, em 2006, seja de 16,3 bilhões de litros, um crescimento inexpressivo frente à média de 5,5% ao ano, dos últimos 10 anos.

Após dois anos de superávit na balança comercial, o setor apresentou, até outubro de 2006, déficit de US$ 1,5 milhão, com importações de US$ 121,9 milhões (crescimento de 19%) e exportações de US$ 120,4 milhões (crescimento de 16,5%).



   A crise no setor é reflexo da atual política macroeconômica do Governo Federal. Os juros reais de 10% ao ano (taxa Selic, descontada a inflação) mantêm elevada a taxa de juros para transações financeiras, com menor estímulo para investimentos produtivos. Esse cenário tem implicações diretas na venda de produtos lácteos, no mercado interno e no externo.

A atual taxa de juros valoriza o real e impede a ampliação das exportações de lácteos. O valor médio de R$ 0,50 por litro recebido pelos produtores é baixo

na moeda nacional, mas sua alta cotação em dólar (US$ 0,23) impede a ampliação da participação brasileira no exterior.

É lamentável que, em momento tão favorável no mercado internacional, com recuperação de preços de mais de 140% entre 2002 e 2006 não se consiga conquistar espaços da forma desejada. Em novembro, a cotação de leite em pó desnatado chegou a US$ 2.900,00 por tonelada. O Brasil possui atributos para ser grande exportador de lácteos. É possível aumentar a produção tanto por meio de expansão da área, como pelo aumento da eficiência produtiva, com manejo do rebanho, genética e nutrição.

Os atuais grandes exportadores têm seu crescimento limitado por questões relacionadas ao suprimento de água, meio ambiente e competição por terra. Também sofrem os reflexos das distorções políticas, como subsídio a exportações, medidas de apoio interno e barreiras tarifárias.

O grande desafio para o setor lácteo brasileiro é ocupar mercados crescentes, como o leste da Ásia e meio leste e norte da África. Na China, por exemplo, o consumo de lácteos aumentou 260% entre 2001 e 2006, passando de 4,4 milhões para 15,8 milhões de toneladas. No entanto, o consumo per capita ainda é muito baixo: 20 litros por ano. Se a demanda per capita dobrar nos próximos cinco anos, será necessário o equivalente à produção do Brasil para suprir essa necessidade.

A valorização do real também cria ambiente favorável ao crescimento das importações. As medidas antidumping aplicadas à Argentina, Uruguai, Nova Zelândia e União Européia, somadas a manutenção do leite em pó, do soro e de queijos na lista de exceção da Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC), com alíquota de 27%, são mecanismos desfavoráveis à retomada das importações aos níveis da década de 90.

Perspectivas 2007

Espera-se que as medidas antidumping aplicadas à União Européia e Nova Zelândia sejam prorrogadas por mais cinco anos. Em setembro, o Departamento de Defesa Comercial (Decom), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, por meio da Circular n.º 60, apresentou determinação preliminar positiva à manutenção das medidas antidumping aplicadas à Nova Zelândia e União Européia. O processo seguirá para deliberação da Câmara de Comércio Exterior (Camex).

No mercado interno, com o baixo crescimento da economia, as famílias tendem a obter reduzido crescimento da renda. Como conseqüência, o consumo per capita de produtos lácteos permanece estagnado em 140 litros/ano, muito aquém da demanda superior a 200 litros/ano nos países desenvolvidos.

Uma possível solução para ampliar o consumo de lácteos é a mudança nos hábitos de consumo da população. Nesse sentido, está sendo criado programa de marketing institucional para o leite. Com a participação de produtores, indústrias e cooperativas, o programa pretende fortalecer a imagem do leite e esclarecer a população sobre suas qualidades nutricionais.

Também será necessário implantar o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite, com a efetiva entrada em vigor da Instrução Normativa nº 51/2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Outras ações importantes são a liberação de recursos para duplicar as linhas de análise dos Laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle de Qualidade do Leite; criação do Cadastro Nacional dos Produtores de Leite e intensificação do combate às fraudes.

Quanto a garantia de renda aos produtores, é fundamental o lançamento do Prop-Leite (Prêmio de Risco para Aquisição de Produto Agropecuário Oriundo de Contrato Privado de Opção de Venda). Esse instrumento de apoio a comercialização já é utilizado com êxito para outros produtos, como algodão, milho, soja e arroz. A expectativa é criar um mercado futuro para o leite, que evitará quedas substanciais dos preços pagos aos produtores.


Boletim Informativo nº 940, semana 18 a 24 de dezembro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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