Pecuária de corte

Preços da arroba do boi gordo chegaram
ao pior nível dos últimos 50 anos

O ano de 2006 ficou marcado por uma das piores crises da história da pecuária de corte brasileira. Os preços da arroba do boi gordo chegaram ao seu pior nível nos últimos 50 anos e, com o aumento dos custos de produção acumulados nos últimos três anos, a atividade apresentou significativa perda de rentabilidade. O abate de fêmeas no primeiro semestre de 2006 alcançou, em média, 40% do total de bovinos abatidos, o maior nível dos últimos dez anos (IBGE). A proporção do abate de fêmeas foi um fator que contribuiu para agravar ainda mais a crise, pressionando para baixo os preços da arroba bovina.


   Os preços da arroba do boi gordo, no Estado de São Paulo, medidos pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), chegaram a R$ 50,55 a prazo, em junho de 2006, em valores reais deflacionados pelo IGP-DI. A partir de então, iniciaram o processo de recuperação, que chegou a 23,5% até outubro, comparado a junho de 2006, alcançando valor médio de R$ 62,47 a arroba de 15 quilos. Os preços alcançaram valores superiores a R$ 64,00 por arroba em meados de outubro, quando voltaram à tendência de queda, em conseqüência da oferta de animais confinados e o início do período de chuvas.

Além da queda dos preços pagos pela arroba do boi gordo, a pecuária de corte brasileira enfrentou, também, a elevação de 6,61% dos custos operacionais efetivos (COE), de janeiro a outubro de 2006, na média dos nove Estados que compõem os Indicadores Pecuários da CNA, elaborados em parceria com o Cepea. Nesse mesmo período, os preços pagos aos pecuaristas, na média dos nove Estados, apresentaram elevação de 15,75%.

Embora os preços da arroba do boi gordo tenham apresentado variação superior aos custos de produção nos primeiros 10 meses do ano, o setor ainda acumula perda de rentabilidade acumulada nos últimos três anos. Se considerado todo o período de realização da pesquisa CNA/Cepea, de fevereiro de 2003 até outubro de 2006, os custos operacionais totais (COT) apresentaram alta de 32,36%, enquanto os preços da arroba do boi gordo acumularam alta de apenas 3,4%.

Os focos de febre aftosa que atingiram o Brasil no final de 2005 provocaram o embargo total ou parcial de diversos mercados à carne bovina brasileira, reduzindo o ritmo de crescimento das exportações durante o ano de 2006. Ao todo, mais de 50 países adotaram restrições à carne brasileira em razão da doença. Entre os principais mercados, destacam-se União Européia e Rússia. Apesar disso, o ajuste de logística realizado pelas empresas, passando a exportar por meio de plantas frigoríficas localizadas em Estados não afetados, aliado à retomada das compras por diversos países ao longo do ano, ainda possibilitou a ampliação dos níveis de exportação do setor.

Rastreabilidade: Com o objetivo de adequar o sistema de rastreabilidade do Brasil e atender às exigências dos mercados importadores de carne bovina, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) editou a Instrução Normativa nº 17, de 13/7/2006, que estabelece a Norma Operacional do Serviço de 50

Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV). O novo sistema institui o conceito de Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV e tem como principais requisitos a obrigatoriedade de identificação individual de 100% dos bovinos e bubalinos da propriedade, o controle sobre a movimentação de animais, eventos sanitários e insumos utilizados na produção e a realização de vistoria de inspeção na propriedade a cada 180 dias no máximo.

A adesão de produtores rurais e demais segmentos da cadeia produtiva de bovinos e bubalinos ao SISBOV permanece voluntária. No entanto, os frigoríficos que exportam carne bovina para mercados que exigem rastreabilidade terão que, obrigatoriamente, comprar animais de Estabelecimentos Rurais Aprovados no SISBOV para atendimento desses mercados.

Exportações: O volume exportado de janeiro a outubro de 2006 apresentou crescimento de 7,16% em relação ao mesmo período do ano anterior, alcançando 1,816 milhão de toneladas em equivalente carcaça. Em valores, as exportações cresceram 22,86% no mesmo período, com receita de US$ 3,191 bilhões, incluindo as vendas de carne bovina in natura, industrializada e miudezas de bovinos.

Apesar dos embargos, o Brasil foi favorecido pelo crescimento dos preços de exportação e pela redução das exportações de países concorrentes, como Argentina e União Européia. Com isso, ampliou consideravelmente suas vendas para mercados da África, Oriente Médio e Leste Europeu, como Egito, Irã, Arábia Saudita, Israel, Bulgária e Romênia. A União Européia continua sendo o principal mercado de exportação, responsável por 34%, em valor, das vendas externas de carne bovina in natura. Em seguida, a Rússia, com 20,5%, e o Egito, com 12,7%. Assim, as exportações de carne bovina, em 2006, deverão alcançar cerca de US$ 3,8 bilhões.

Produção: O Brasil deverá encerrar o ano com uma produção de aproximadamente 8,9 milhões de toneladas de carne bovina, em equivalente carcaça, com cerca de 44 milhões de cabeças abatidas, o que representa uma taxa de abate de 21,7%. Estima-se um aumento próximo de 0,8% do consumo per capita de carne bovina este ano, que deverá situar-se em 36,5 quilos, em conseqüência do aumento da oferta e, conseqüentemente, da queda dos preços da carne bovina aos consumidores.

Perspectivas 2007

A expectativa da pecuária de corte, para 2007, é de que o setor possa dar seqüência de forma sustentável ao processo de recuperação de preços iniciado neste ano. O elevado crescimento da proporção do abate de fêmeas deste ano pode ser um indicativo do ajuste da oferta, nos próximos dois anos, o que poderá sinalizar tendência de alta do ciclo pecuário.

O produtor rural também precisa estar atento na gestão de sua propriedade, buscando o uso eficiente dos insumos. Quando possível, deve adotar novas tecnologias que visem o aumento da rentabilidade da propriedade.

É provável que o Brasil mantenha a posição alcançada nas exportações de carne bovina, que já representam aproximadamente 30% do comércio mundial do produto. Para isso, é fundamental que a próxima gestão do Governo aumente os investimentos nos serviços de vigilância e defesa sanitária animal que, nos últimos anos, vem apresentando queda. Tal deficiência expõe o sistema de produção da pecuária de corte ao risco de doenças, que podem prejudicar diretamente o produtor rural e as exportações do setor.

O limite orçamentário para custeio das ações de defesa sanitária coordenadas pela Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para 2007, foi fixado em R$ 129,7 milhões pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. O MAPA realizou gestões para obter o aporte adicional de recursos de R$ 65 milhões. Dessa forma, o total de recursos previsto no Orçamento da União para as ações de defesa sanitária, em 2007, é de R$ 194,7 milhões.

Esse valor é considerado insuficiente face às necessidades de recursos para uma adequada estruturação dos serviços de vigilância e defesa sanitária coordenados pelo MAPA e executados em parceria com os Estados. Deve-se considerar, também, que o crescimento da produção e do comércio internacional de produtos agropecuários, do qual o Brasil é um dos países mais dinâmicos, requer permanente aperfeiçoamento desses serviços por parte do setor público.

Estima-se em R$ 450 milhões a necessidade de recursos para o adequado atendimento dos serviços de vigilância e defesa sanitária no âmbito da Secretaria de Defesa Agropecuária, do MAPA, em 2007. Cerca de 50% desses recursos devem ser aplicados na execução dos serviços a cargo dos governos estaduais.

A execução devidamente programada da liberação dos recursos é tão importante quanto o volume do aporte para assegurar que não haja interrupção e comprometimento dos serviços de vigilância e defesa sanitária do País. Os recursos orçamentários efetivamente empenhados e executados têm ficado muito aquém do previsto nas leis orçamentárias. Em 2005, por exemplo, de um orçamento total R$ 202 milhões, incluindo créditos suplementares, foi efetivamente executado o montante de R$ 132,6 milhões, o que representa apenas 65% do total previsto.

Os recursos orçamentários para a defesa sanitária têm sido sistematicamente contingenciados pela área econômica do Governo, causando descontinuidade das ações e expondo a risco a produção agropecuária do País. Para uma política efetiva de defesa sanitária, a liberação de recursos do Orçamento da União para esse fim não deveria estar sujeita a contingenciamento ou qualquer outra forma de interrupção.

Os trabalhos para erradicação dos focos de febre aftosa que atingiram o Brasil no final de 2005 deverão ser concluídos até o final de 2006, quando o MAPA deverá encaminhar pleito à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), solicitando a recuperação do status sanitário de zona livre de febre aftosa com vacinação nas áreas afetadas. Além do mais, o Brasil também encaminhará pleito solicitando à OIE o reconhecimento da região centro-sul do Estado do Pará como zona livre de febre aftosa com vacinação, o qual poderá ser aprovado na assembléia geral do or ganismo, em maio de 2007.


Boletim Informativo nº 940, semana 18 a 24 de dezembro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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