Oscilações do petróleo e do dólar afetam
valor das commodities agrícolas

No segundo semestre de 2007, o mundo foi surpreendido com as notícias da crise imobiliária nos Estados Unidos e suas possíveis conseqüências, não apenas na economia norte-americana, mas em todas as economias mundiais. Especialmente nas dos países emergentes. Era um prenúncio de um novo ciclo de recessão.

De lá para cá, foram meses de volatilidade, oscilação e expectativa nos mercados de commodites agrícolas, não-agrícolas e financeiro.

Primeiramente, os preços das commodities agrícolas cresceram mais que 60% nos dois últimos anos.  Algumas variáveis contribuíram para a elevação dos preços. Entre elas, o crescimento mais rápido da demanda mundial em relação à produção, o que por sua vez, levou a um quadro ajustado de oferta e demanda mundial.

SOJA - PREÇOS BOLSA DE CHICAGO CONTRATOS PARA SETEMBRO/2008

Por outro lado, recentes fatores têm influenciado o aumento da pressão no mercado mundial, como o incremento global da demanda por matéria-prima para bioenergia e as condições climáticas adversas, nos anos de 2006 e 2007, em alguns países produtores de grãos e oleaginosas.

Um outro fator que deve ser levado em conta é que os preços já trazem embutidos: o declínio do valor do dólar, o aumento nos custos da energia elétrica, o aumento dos custos de produção, o crescimento das importações por países que necessitam de alimentos e as políticas recentemente adotadas por países exportadores e importadores, para mitigar seu crescimento inflacionário nos preços dos alimentos.

O resultado da adversidade climática em 2007 foi a queda consecutiva na esfera global da produção de grãos e oleaginosas.   Historicamente, o episódio de dois anos consecutivos de queda mundial de produção ocorreu apenas em três outras vezes nos últimos 37 anos.

Em segundo lugar, no mercado mundial há uma transferência de investimentos financeiros para as commodities agrícolas, com a entrada de grandes fundos e, também, de pequenos investidores que desejam diversificar sua carteira e, para isso,  escolheram as commodities agrícolas para investir. O grande fluxo de capital fez com que os mercados de futuros não refletissem apenas a oferta e demanda, passando a serem influenciados por outras variáveis.

Na Bolsa de Chicago (CBOT), os fundos de produtos básicos dominam 40% dos contratos. Com isso, os preços de referidas commodities na Bolsa de Chicago (CBOT) apresentaram um crescimento acelerado no primeiro semestre de 2008.

A soja chegou a testar a cotação de US$ 36,55/saca.  Já a média, no período janeiro-agosto de 2008, foi de US$ 29,85/saca, cerca de 126% superior à média dos últimos anos (US$ 13,20/saca de 60 kg).

Quanto ao milho, os preços internacionais chegaram a US$ 16,45/saca. O trigo experimentou um teto de preço de US$ 24,42/saca de 60 kg.

As perspectivas para os próximos meses sinalizam que as commodities deverão registrar um crescimento menos acelerado. Porém, ainda compensadores. O que deve se estender para a safra 2008/09.

Tal assertiva tem respaldo nos fatores fundamentais de mercado, quais sejam: produção, consumo e estoque. Os números do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que os estoques mundiais e norte-americanos deverão permanecer ajustados.  A relação estoque final/consumo norte-americano é de apenas 4,5%.  

O mercado aguarda o relatório de setembro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).  Há uma dúvida pairando sobre o volume da produção da soja norte-americana, haja vista que a mesma enfrentou sérios problemas, como o atraso no plantio, ultrapassando o período tecnicamente recomendável e a fase de enchentes nas principais regiões produtoras do Meio-Oeste.  Idêntica preocupação existe quanto ao milho norte-americano que enfrentou problemas idênticos.

Um outro fator que merece acompanhamento é a trajetória dos preços do petróleo, já que  sua influência sobre as commodities agrícolas é fato. Historicamente, as cotações das commodities agrícolas costumam acompanhar as oscilações do petróleo.

MILHO - PREÇOS BOLSA DE CHICAGO CONTRATOS PARA SETEMBRO/2008

Na semana de 01 a 05 de setembro, o preço do petróleo acumulou queda de 8%. O preço negociado foi de US$ 106,23/barril. A commodity caiu US$ 41,00/barril em relação  ao preço recorde de US$ 147,27/barril de 11 de julho. Já na terça-feira (08), o petróleo passou para US$ 103,26/barril.

Quanto ao dólar, a moeda vem se recuperando frente às demais moedas e a valorização do dólar não favorece as commodities.  Explicando melhor, a queda das commodities – soja, milho, trigo, café, petróleo, metais –  afasta os fundos de investimentos que se deslocam para outro tipo de aplicação. O anúncio da ajuda do governo Bush às agências hipotecárias norte-americanas levou o dólar à cotação máxima em euros nos últimos 11 meses. Conseqüentemente,  os fundos de investimentos fugiram   das commodities e foram para outro tipo de aplicação.  

O programa de socorro efetuado pelos Estados Unidos aos fundos imobiliários teve, no primeiro momento, um impacto positivo na economia global com as bolsas mundiais reagindo positivamente.  Após passada a euforia, o mercado reavaliou os reflexos da ajuda governamental e percebeu que não está afastado o fantasma da crise na economia mundial e que, ainda, há um longo caminho a ser percorrido.

De acordo com Kyle Cooper, diretor de pesquisa da LAF Advisors, o estado das economias norte-americana e européia sinaliza preocupação. “Com isso, a percepção do mercado é de que o aumento das economias da China, Índia e Brasil pode não ser suficiente para superar o que parece ser uma situação de contração econômica mundial”.

Assim, o tripé de fatores - queda nos preços do petróleo, recuperação do dólar frente a uma cesta de moedas internacionais e as questões climáticas vigentes no Meio-Oeste dos Estados Unidos (clima favorável ao desenvolvimento da cultura) – vem repercutindo negativamente sobre os preços da soja, milho e trigo, com pregões contínuos de queda.

TRIGO - PREÇOS BOLSA DE CHICAGO CONTRATOS PARA SETEMBRO/2008

O mercado da soja, quando comparado aos preços de 1º de agosto a 5 de setembro, aponta uma baixa de 13%.  Com relação ao mercado do milho, em igual período, o recuo foi de 6%.  Já o trigo aponta uma queda de 8% em igual período analisado.

A possibilidade de alterações nas regras do jogo no mercado de investimentos,  preconizadas pelo Governo norte-americano,  e a insegurança latente do mercado quanto ao comportamento da economia mundial, principalmente o encolhimento da economia norte-americana e a inflação beirando 1,0%, formam fatores que devem ser acompanhados mais atentamente.

Mais recentemente, a União Européia vem sinalizando sintomas de abalo em sua economia. O  que também contribui para a tendência decrescente do mercado de commodities e afeta o mercado financeiro mundial.

Nessas circunstâncias, para o produtor de commodities agrícolas, é recomendável o acompanhamento dos preços não apenas de seu produto, mas também, do desempenho dos preços do petróleo e da taxa cambial.

Gilda Bozza

Economista - DTE / FAEP

Boletim Informativo nº 1022, semana de 15 a 21 de setembro de 2008
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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