Pagamento da dívida agrícola
consome dinheiro da safra

A maior parte dos recursos que os produtores estão obtendo, com a produção agropecuária da safra 2007/2008, é destinada ao pagamento das dívidas. É o que mostra um levantamento da FAEP realizado em maio. Para melhor compreender o andamento da comercialização, o Departamento Técnico Econômico da Federação ouviu produtores de diversas regiões, agentes financeiros, a Secretaria da Agricultura, associações comerciais e o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar).  

Diante do cenário atual, com a elevação no custo do insumo, o produtor está mais cauteloso neste ano. Muitos produtores já começaram a pensar nas suas estratégias de comercialização para a próxima safra, mas estão preocupados. Segundo o superintendente técnico-sindical da FAEP, Luiz Antonio Digiovani, as margens de rentabilidade serão estreitas e o produtor não pode se descuidar com o planejamento do plantio e com a comercialização.  

Para o economista do Departamento Técnico e Econômico da FAEP, Pedro Loyola, os produtores acumularam dívidas de seis safras, três de inverno e três de verão, e essa conta começa a ser paga neste ano. Além das dívidas normais de custeio, investimento e das dívidas antigas alongadas, como é o caso da Securitização, Pesa e Funcafé, os produtores têm que pagar, em 2008, a parcela das dívidas de custeios prorrogadas das safras 2004/05, 2005/06 e 2006/07. "Essas dívidas equivalem praticamente a um ano de produção e foram parceladas em até cinco anos, dependendo do credor. Alguns agentes financeiros simplesmente empurraram esse débito todo para 2008 e os produtores, nesses casos, terão  problemas para pagar esse passivo", disse.

Além desse elenco de dívidas, por falta de acesso ao crédito oficial, os produtores foram impelidos a buscar financiamento nos fornecedores de insumos e cooperativas. A procura por fontes de recursos alternativas ao crédito oficial intensificou-se antes e durante os anos de crise, de 2004 a 2006.  

Para essas dívidas com fornecedores, os produtores renegociaram o pagamento de parte dos débitos de um ano para outro. Já outros produtores tiveram acesso a um programa de renegociação desse passivo. Utilizaram uma linha de refinanciamento conhecida como FAT Giro Rural. Esta linha parcelou, em média, os débitos em três anos. Neste ano, vence a primeira parcela.

Uma pesquisa realizada pela FAEP em 2007, com mais de 1.500 produtores, demonstrou que entre 15% a 20% dos produtores paranaenses, dependendo da atividade, utilizam recursos próprios em seus empreendimentos e não se utilizam de financiamentos em agentes financeiros. "São produtores mais estruturados e que não enfrentam o problema do acúmulo de dívidas. Hoje, são também os que mais investem em tecnologia, gestão da propriedade e têm condições de adquirir máquinas e equipamentos agrícolas", afirmou.

Porém, a grande maioria dos produtores paranaenses enfrenta uma realidade diferente. A melhora dos preços e da produção vai ser usada em 2008 para começar a pagar a conta da crise recente.

Cooperados aproveitam momento para acertar passivo

De acordo com a Ocepar, apesar dos bons preços, a margem de lucro não está tão grande assim. Isso porque os custos de produção aumentaram significativamente. Para o gerente técnico e econômico da Ocepar, Flávio Turra, muitos produtores estão com um passivo de dois anos atrás em decorrência da quebra de safras. 

"Com isso, os produtores aproveitam o momento para acertar suas dívidas. Aqueles que não estavam endividados, buscam investir na renovação de máquinas e tecnologia", disse. Já aqueles produtores mais capitalizados chegam a comprar propriedades. "Mas são poucos. É uma situação isolada!", comentou. 

Segundo Turra, há produtores que tentam antecipar a aquisição, principalmente, de fertilizantes. "Assim, procuram comprar mais em conta. Com os preços subindo continuamente, quem consegue antecipar as compras de insumos compra mais barato", explicou. 

De acordo com avaliação da Ocepar, as cooperativas procuram retomar os investimentos em vários segmentos, como carnes, leite e peixe. "Com isso, buscamos agregar valor à produção, já que há uma tendência dos preços se manterem em níveis elevados nos próximos dois anos", informou.

Boletim Informativo nº 1004, semana de 26 de maio a 1 de junho de 2008
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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